Mariana Pereira é aluna do segundo ano do Mestrado em Toxicologia Analítica Clínica e Forense, da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, e respondeu a algumas questões acerca do mesmo.
Poderias descrever o teu mestrado? As UC’s são mais voltadas para a teoria ou para a prática?
Algumas das cadeiras, as de menos créditos, não têm componentes laboratoriais. No entanto, há um bom balanço de componente prática e teórica e, no geral, a parte laboratorial ajuda a compreender a matéria teórica dada. É importante referir que o mestrado é por módulos, então, por norma, só há uma cadeira a ser dada de cada vez e o horário muda basicamente todas as semanas.
Que UC’s de laboratório tens? Na tua opinião, preparam-te bem para o teu futuro?
Não há nenhuma cadeira só de laboratório, no entanto as cadeiras mais importantes têm componente laboratorial (“Análises Toxicológicas I e II”, “Farmacocinética, Toxicocinética, Farmacogenómica e Necrocinética”, “Métodos de Análise em Toxicologia” e “Toxicologia Clénica”). Acredito que a maioria ajuda de facto a compreender técnicas úteis. Diria que as duas que o fazem melhor são “Métodos de Análise em Toxicologia” e “Análises Toxicológicas II”. A primeira, apesar de ter bastante matéria, é extremamente útil para perceber as diferentes técnicas que um toxicólogo pode ter de usar durante a sua carreira. A segunda tem uma componente prática em que um grupo escolhe um composto e uma técnica e, durante uma semana (todos os dias) estamos no laboratório a otimizar o método e a tentar perceber a concentração do composto que estamos a analisar na nossa amostra. No meu caso estivemos a analisar amostras de urina para descobrir se havia vestígios de compostos relacionados com doping. É uma semana de muito trabalho e longas horas, mas acho que é algo que não se encontra em muitos mestrados e é uma mais valia no desenvolvimento da independência e para nos mostrar o que possivelmente podemos vir a fazer no nosso futuro, quer seja em investigação ou em empresas.
O teu mestrado tem alguma colaboração com empresas e/ou universidades?
Não há nenhuma colaboração formal estabelecida, mas a diretora do mestrado e os professores que fazem parte da comissão de acompanhamento têm muitos contactos em vários locais e ajudam caso queiramos ir para uma tese num outro local fora da faculdade. Por exemplo, um dos professores conseguiu parceria com universidades de outros países e então tivemos 3 sugestões de tese no estrangeiro (em Espanha, Itália e República Checa).
Que saídas profissionais podem esperar os estudantes que completem o mestrado que frequentas?
Este mestrado é sem dúvida mais focado para irmos para investigação, sendo que é isso que os professores mais incentivam. No entanto essa não é a única opção, aliás nem é o que eu pretendo fazer. Outras opções passam por trabalhar em empresas farmacêuticas e até no Instituto de Medicina Legal, bem como em laboratórios de análises e hospitais
Onde aconselhas a procura de informação, para quem esteja interessado em seguir o teu mestrado?
Procurar informação diria que só mesmo no site da faculdade, que até tem uma boa explicação dos objetivos e saídas. A melhor maneira, no entanto, é sem dúvida falar com alguém que frequentou o mestrado, foi assim que obtive a minhas informações.
O que te fez seguir o mestrado que frequentas?
Toxicologia foi uma das cadeiras que mais me despertou interesse na licenciatura. Há um mestrado na FCUP em colaboração com o ICBAS mas esse é mais virado para ecotoxicologia, o que não me desperta interesse, então achei que este estava mais de acordo com o que eu queria aprender.
Estás a gostar do teu mestrado?
Sim, é um mestrado interessante e tem bons professores que explicam bem a matéria. Toca nas coisas mais importantes e que eu mais queria perceber, e tive experiências na componente prática que gostei bastante. Este ano da tese é sempre mais complicado, mas mesmo assim está a ser interessante e a desafiar as minhas capacidades.
Na tua opinião, quais os pontos positivos?
Além do óbvio, acho que o ensino por módulos é excelente. Permite que o nosso foco esteja inteiramente na cadeira que estamos a dar, o que ajuda a interiorizar e perceber a matéria. Diria que as cadeiras estão bem estruturadas no geral. Uma cadeira muito importante é sem dúvida o “Seminário”. Ao contrário de outros mestrados, esta cadeira no nosso mestrado envolve fazer uma monografia/artigo de revisão. Basicamente é um trabalho teórico de pesquisa individual cujo tema é semelhante ao tema da tese que se tem no ano a seguir. É a última cadeira do primeiro ano do mestrado e temos cerca de 2 meses para o fazer, sem mais nada. Nesta altura já temos orientador, então é ele que nos corrige o seminário. É extremamente útil porque não só ajuda no desenvolvimento da aptidão de pesquisa como também partes do seminário são posteriormente usadas como a introdução da tese. Envolve também uma apresentação oral a um júri e também tem uma parte de defesa, tal como o que ocorre numa apresentação de tese. É uma excelente maneira de não só adiantar uma parte da tese como também experienciar uma defesa, o que ajuda a estar preparado para quando for a tese. Outra coisa positiva é o processo de escolha da tese. Apesar de podermos sugerir nós os temas, foi nos dado um documento com mais de 30 temas que podíamos escolher, juntamente com os orientadores e os seus contactos para podermos tirar dúvidas que pudéssemos ter. Eram muito variados e em diversas áreas da toxicologia e, a meu ver, ajudou bastante no que é uma decisão complicada.
E negativos?
Apesar de o mestrado ser por módulos aconteceu, uma ou duas vezes, haver mais do que uma cadeira a decorrer ao mesmo tempo. Foi mais no início, mas aconteceu. O horário, como já disse, mudava todas as semanas, então tanto podíamos ter aulas de manhã como ao fim da tarde. Se nada mudar é de ter em conta que tivemos bastantes aulas das 17h às 20h e até alguns sábados. Isto não me afetou muito, mas pode afetar, principalmente a trabalhadores-estudantes. Algumas cadeiras tinham imensa matéria e trabalhos, o que nem sempre correspondia ao número de créditos.
Achas que o teu mestrado está bem estruturado?
No geral diria que sim, a matéria foi bem escolhida e distribuída, por vezes havia demasiados professores diferentes, o que podia ser algo confuso.
O que poderia ser reformulado na estrutura do mesmo?
Eu diria que há uma cadeira que não faz muito sentido e que podia ser retirada. Falo da cadeira opcional UP que temos no segundo ano. Para além do trabalho que é ter de estar à procura de uma cadeira de outros mestrados e tentar obter informações, também não acho que adicione muito à nossa aprendizagem e acaba por ser mais trabalho do que vale a pena. Também acaba por interferir com o desenvolvimento da tese, visto que tira tempo quer para as aulas quer para estudar.
O que tiveste em consideração na escolha do teu mestrado?
As saídas, a matéria que se dava, também tive em conta o local (a faculdade de farmácia).
Tens algum conselho para os estudantes que se vão candidatar, no próximo ano, a um mestrado?
Não tenham medo de sair da vossa zona de conforto e de ir para outras faculdades ou até universidades. Vão para o que acharem mais interessante.