Sónia Ferreira: Mestrado em Ciências do Mar e Recursos Marinhos

Sónia Ferreira é aluna do primeiro ano do Mestrado em Ciências do Mar e Recursos Marinhos, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, e respondeu a algumas questões.

As UC’s são voltadas mais para a teoria ou para a prática?

Bem depende um pouco de que unidades curriculares estamos a falar na verdade. A maioria das UC’s de primeiro semestre, que são obrigatórias, são mais viradas para a parte teórica à exceção da UC “Técnicas e Aplicações de Biologia Celular e Molecular” muito semelhante às unidades de Biologia Molecular e Celular da licenciatura de Biologia (o que dá bastante jeito visto que muitas das coisas que já aprendemos são facilmente aplicadas nesta UC). Já as unidades de 2º semestre não posso falar muito, porque devido à pandemia vírica vi-me obrigada a estudar apenas através de conteúdos práticos de uma forma teórica. Mas normalmente, a componente prática é muito mais vincada no 2º semestre.

As UC’s são um bom complemento à componente prática?

Sim. Pelo menos as que tive assentavam primeiro no leccionamento de conceitos gerais e depois, antes da aplicação da matéria dada em aulas teóricas se realizar era tudo, de uma maneira geral, explicado antecipadamente para irmos já preparados e sabermos os cuidados a ter ao manusear por exemplo certos instrumentos, ou mesmo os organismos (peixes maioritariamente) e obviamente para sabermos o porquê de estarmos a fazer o que o protocolo indicava (também disponibilizado antes da aula prática).

Que UC’s de Laboratório tens?

Como já tinha mencionado numa questão anterior tive a UC “Técnicas e Aplicações de Biologia Celular e Molecular” que é bastante prática. Quanto a “Biologia e Ecologias Marinhas” as aulas eram teóricas mas eram dadas na ELA (Estação Litoral da Aguda) onde cheguei a ter uma visita guiada pelo edifício com acesso aos aquários pelo “backstage” e com explicação de circuitos de circulação de água, visita a locais de quarentena, tanques de reprodução, nursering, sistemas de filtração e tratamento da água e também cheguei a ter uma visita ao parque das dunas perto do ELA com explicações do desenvolvimento das mesmas e a vegetação típica associada. De resto teria sim, neste 2º semestre bastantes aulas práticas laboratoriais principalmente a Toxicologia Aquática (opcional) mas só consegui ir a uma no CIIMAR antes da visita do corona. O mesmo aconteceu com Imunologia dos Animais Aquáticos em que só tive uma aula laboratorial no ICBAS em que fizemos recolha de sangue em peixes, abertura dos mesmos, verificação de órgãos e problemas associados à saúde dos peixes (parasitas, lesões,…). “Ecologia Aplicada e Biologia da Conservação” e “Fitoplâncton e Zooplâncton” também teriam aulas práticas laboratoriais que me foram dadas a nível teórico ou substituídas por trabalhos individuais ou de grupo.

Na tua opinião, as aulas de laboratório estão a preparar-te bem para o teu futuro?

No 1º semestre senti uma boa preparação. Neste 2º semestre, se tudo corresse como esperado, principalmente com aulas dadas no CIIMAR em certas unidades, estou certa de que também estaria a ter uma boa formação.

O teu Mestrado tem alguma colaboração com empresas e/ou universidades?

Sim, o meu mestrado está ligado a instituições científicas como o CIIMAR, com o IPMA e o ELA como já referi antes. Também cheguei a ter aulas com professores convidados e especialistas de empresas ou maioritariamente de instituições como o CIIMAR.

Na tua opinião, essas ligações potenciam o ingresso no mercado de trabalho?

Sim, uma vez que as ligações pessoais normalmente falam um pouco do que fazem e que áreas de especialização existem no local onde trabalham. Os locais de leccionamento de algumas aulas fora do ICBAS também contribuem para a divulgação de projetos e atividades realizadas nos mesmos, porque verdade seja dita, uma coisa é ler ou ver fotos sobre o local, outra coisa é estar lá e ver com os nossos próprios olhos o que se passa ao nosso redor.

Que saídas profissionais podem esperar os estudantes que completem o mestrado que frequentas?

Bem, uma vez que este mestrado é dividido em 2 especializações: “Biologias e Ecologias Marinhas” e “Aquacultura e Pescas” as saídas profissionais variam um pouco do que o estudante escolher seguir. Na especialização mais ecológica (que neste caso foi a que escolhi) os alunos optam por seguir algo relacionado com as UC’s escolhidas como por exemplo transformação e comércio de produtos marinhos, análises, investigação em diferentes áreas associadas ao mar, maioritariamente em instituições científicas, e ensino. Quanto à outra especialização normalmente os estudantes optam por seguir e trabalhar em Aquariofilia, Aquários Públicos, Biotérios e o mais comum, em aquaculturas. Apesar de ser o mais comum acontecer, nada impede que as duas especializações se acabem por se cruzar em certos pontos e aí as oportunidades de saídas são bastante diversificadas.

Um exemplo: há certos colegas mestrandos, no meu ramo de especialização, que esperam optar por seguir uma saída profissional relacionada com a gestão do mar, aplicação de leis, estatutos e medidas de conservação, o que é perfeitamente possível. Tudo depende um pouco daquilo que escolhemos em termos de UC para nos dar a formação básica e necessária para nos ajudar a entender o que realmente queremos seguir no futuro e principalmente naquilo que ambicionamos ser no futuro. O resto resume-se a trabalho árduo, ao aproveitamento de atividades fora do mestrado promovidas por outras instituições, ou mesmo na própria instituição, à persistência, à ambição de querermos alcançar mais e melhor e talvez… alguns cafés e galões para ajudar no processo 😉.

Onde aconselhas a procura de informação, para quem esteja interessado em seguir o teu Mestrado?

Se alguém estiver interessado neste Mestrado aconselho primeiramente a vaguear um pouco pelo site do ICBAS para saber as UC’s disponíveis e saber um pouco mais sobre os seus objetivos. Também recomendo este site https://msc-cmar-recursos-marinhos.weebly.com/empregabilidade.html# referente ao mestrado em particular (sim temos uma webpage só para o nosso mestrado). Também recomendo vivamente a recorrência a testemunhos pessoais de alunos atuais ou que já frequentaram este mestrado (foi pelo que optei também).

O que te fez seguir o Mestrado que frequentas?

Esta é sempre uma pergunta muito nostálgica de responder. Quando eu era pequena o meu pai tinha um hobby: praticava mergulho. Sempre que podia e era possível lá ia ele com os seus companheiros de mergulho visitar um novo país com uns valentes kilos de equipamento e garrafas de ar comprimido atrás. Chegava a ficar bastantes dias fora e eu, como era pequena, a única coisa que podia fazer era falar com ele por chamada e esperar o seu retorno no aeroporto. Depois de ele chegar a Portugal trazia sempre uma lembrancinha para mim, fotos subaquáticas daquilo que viu e muitas, muitas histórias e experiências para contar. Dá para reparar que acabei por ganhar este gosto ao mar através dele e até lhe disse que queria tirar o curso de mergulhador tal como ele. Hoje estou a meio caminho de completá-lo.

Acabei por ir para Biologia porque esse gosto podia não chegar para algo que eu pudesse fazer futuramente (e também porque não entrei em Bioquímica que era a minha 1ª opção – e ainda bem que não entrei). Como Biologia é bastante abrangente, pensei que ao longo do meu percurso iria saber realmente o que queria. No entanto, até ao início do 3º ano de licenciatura não sabia bem o que queria escolher. Após o meu estágio curricular (associado ao CIIMAR e relacionado com monitorização de cetáceos) decidi finalmente que o mar teria de fazer parte da minha vida enquanto pessoa e estudante. Como aqui na universidade do Porto não temos Biologia Marinha cheguei a pensar optar por Aveiro ou Lisboa. Mas após análise deste mestrado no ICBAS verifiquei que o plano de estudos era similar e apostei ficar por cá. O coração agradeceu também porque acabo por ficar muito perto das pessoas que mais gosto.

Estás a gostar do teu Mestrado?

No geral sim estou. Acho que mesmo tendo algumas surpresas menos agradáveis ou UC’s que gostei menos provaram que apesar de talvez serem mais chatas ou aborrecidas, acabam por completar bastante o teu currículo e fortalecer bases de aprendizagem.

Neste 2º semestre estava mesmo com boas expectativas para as UC’s que escolhi. No entanto, dadas as circunstâncias atuais, acho que só estou a aproveitar um pedacinho daquilo que seria o ideal. Um ensino só baseado em partes teóricas e trabalhos para entregar, como podem ver, não é nada apetecível e confesso que estou um pouco triste de não poder estar a usufruir da parte prática pelo menos para já. Não sei como a situação irá evoluir mas existe a possibilidade de haver aulas práticas mais tarde e visitas de estudo também (sim iriam haver visitas de estudo e eu que estava tão ansiosa ☹ ).

Na tua opinião quais os pontos positivos?

Apesar de tudo, acho que o ICBAS tem bastante para oferecer a nível prático e aprende-se muito com docentes diferentes uma vez que a maioria das aulas são dadas por mais que um professor e, por vezes, com mais do que um ao mesmo tempo. O facto de estar ligado a instituições como o CIIMAR, e de inclusive termos aulas lá, acaba por nos proporcionar experiências que às vezes são cruciais para decidirmos, por exemplo, onde queremos trabalhar no futuro e em quê ou então a quem ou aonde nos devemos dirigir para falar sobre a tese ou estágio no 2º ano de mestrado. Fazer novas amizades também é bastante importante para troca de experiências principalmente com quem veio de outras universidades ou licenciaturas.

E negativos?

Penso que nenhum curso se apoia apenas em pontos positivos. No caso deste mestrado penso que um dos aspetos que menos o favorecem é o horário que nunca é o mesmo e todas as semanas temos algumas aulas a mudar de dia semanal e de hora. A comunicação entre docentes também por vezes é irregular mas eles tentam sempre fazer o máximo para rentabilizar as aulas e colocar as suas aulas para favorecerem os alunos (maioria das vezes).

Uma vez que não tenho UC’s típicas da outra especialização, é normal que não saiba muito sobre a existência de problemas a esse nível.

Em algumas UC’s (as mais teóricas) também notei bastante que acabam por ser as mais maçadoras mesmo com um intervalo a meio para recarregar as energias.

Achas que o teu Mestrado está bem estruturado?

Penso que esse era um aspeto que poderia ser melhorado uma vez que está organizado semestralmente, mas dentro do semestre as UC’s comportam-se de uma maneira trimestral (eu sei é confuso).

O que poderia ser reformulado na estrutura do mesmo?

Para tudo ser perfeito era ter um horário mais definitivo ao longo do semestre, e épocas de exames e entrega de trabalhos melhor definida. No entanto, sei que quando se tem um diretor de curso que também dá aulas ao curso de Medicina e docentes de UC’s que também são investigadores ou que não trabalham apenas na faculdade, tudo isto é um pouco difícil de gerir ainda para mais quando é só um mestrado com menos de 20 pessoas.

Há alguma “peripécia”/vivência que tenha ocorrido neste/s ano/s em que estás a estudar e que gostasses de partilhar?

Todos os dias há pequenas vivências com os amigos na hora do almoço ou no passeio pós-almoço (quando as aulas acabam mais cedo) nos Jardins do Palácio com direito a companhia de galinhas. Uma experiência em particular não me recordo mas há sempre aquelas fotos que se tiram nas aulas práticas por exemplo, enquanto o professor não está a olhar, com o teu amigo peixe que acabaste por dissecar e aquela foto típica do teu amigo que está a fazer um esforço enorme para não adormecer na aula.

No geral, o ICBAS é todo um espaço onde podem decorrer imensas peripécias. Já chegamos a marcar encontros de trabalhos de grupo na faculdade e logo nesse dia por causa da chuva que molhou os fios, lá se foi a eduroam. Noutro dia encontras a funcionária da limpeza com fones a limpar a sala de estudo e a cantar alto Stand by me. Depois tens de fazer um trabalho de grupo em que estás a monitorizar garças e elas não aparecem. E por fim, quando finalmente adquires um cacifo, tentas abri-lo e desesperas porque ele não abre e afinal descobres que não era o teu.

O que tiveste em consideração na escolha do teu Mestrado?

As unidades curriculares e a experiência pessoal de um antigo estudante.

Tens algum conselho para os estudantes que se vão candidatar, no próximo ano, a um Mestrado?

Recomendo vivamente a pensarem primeiro no que querem e no que se veem a fazer no futuro. Talvez o melhor mesmo seja primeiro pensar naquilo que definitivamente não querem e daí começarem a ver opções que vos interessem. Procurem falar com alguém que o frequente ou que já frequentou esse mestrado, as experiências pessoais são sempre as melhores na minha opinião.

Caso a escolha seja este mestrado há algumas coisas que gostava de dizer: estejam preparados para tudo, andem sempre com 0,30€ no bolso para uma bebida quente da máquina entre intervalos para vos darem a energia necessária para estarem atentos ás aulas, dependam dos vossos professores para tirar dúvidas e esclarecer conceitos, não liguem se parecer que alguém vos provoque um pouco mais ou mande ao ar um comentário menos sensível ( descarreguem a raiva em casa ou com os vossos amigos ou podem sempre começar a fazer uma meditaçãozinha) e estejam sempre atentos às oportunidades de atividades fora e dentro da faculdade relacionadas com os vossos interesses. Façam amigos e disfrutem do ano juntos!

Podes partilhar algum contacto teu, caso alguém te queira pedir algum conselho e/ou opinião?

Com certeza! Então deixo aqui o meu e-mail s.isabelferreira5@gmail.com e o meu link do Facebook caso queiram mandar uma mensagem também https://www.facebook.com/sonia.ferreira.9828/. Nos dois casos estou sempre atenta 😉.