Ruxanda Lungu: Magistère Européen de Génétique (MEG)

Ruxanda Lungu frequentou (de 2017 a 2019) o Magistère Européen de Génétique, na Université de Paris Denis Diderot-Paris 7, e respondeu a algumas questões acerca do mesmo.

Como é funciona este mestrado a nível de plano de estudos?

Trata-se de um mestrado bastante completo de três anos (L3,M1 e M2). No meu caso, frequentei apenas o M1 e M2 pois consegui equivalência de todas as disciplinas do L3, também porque o L3 corresponde a um 3º ano de licenciatura (o sistema de ensino francês é bastante diferente). Dito isto, todos os anos lectivos têm uma componente teórica e outra prática (como 3 “mini teses” finais para cada ano). O L3 tem UC’s mais teóricas e introdutórias à genética geral e um estágio de 3 meses num laboratório com parceria neste mestrado (normalmente no Canadá ou Europa). O M1 tem UC’s obrigatórias de setembro a janeiro e opcionais de Janeiro a Março, às quais se segue o estágio de 5 meses (nos EUA ou Europa). O M2 tem apenas UC’s opcionais e o 3º estágio de 6 meses (em Paris). Os estágios são remunerados. É importante realçar que no L3 e no M1 as UC’s são lecionadas em Francês, salvo algumas excepções (em inglês) e no M2 em Inglês, salvo algumas excepções (em francês). É painda possível obter um Double Diploma. Visto que o M2 é o ano internacional, é o ano em que há mais troca de alunos. A maior parte das trocas são feitas com Itália, Grécia e Espanha e é possível ter as UC’s do M2 num destes países numa universidade sugerida e a tese em Paris. Caso se opte fazer o ano inteiro do M2 em Paris, é possível escolher a “Semana Erasmus” numa destas Universidades, contudo não há direito ao Double Diploma. No meu caso, fiz o M2 todo em Paris e optei pela semana Erasmus da Universidade de Barcelona onde tive um curso intensivo de “Neural development and neurological or psychiatric disorders”. É de realçar ainda que o M2 é permitido não apenas aos alunos que prosseguem do M1 e do programa de double diploma, mas também a alunos de outros cursos franceses, nomeadamente medicina (juntam-se apenas para fazer este ano do curso de genética).

As UC’s são mais voltadas para a teoria ou para a prática?

No geral, as UC’s obrigatórias acabam por ser mais teóricas e as opcionais mais práticas uma vez que são mais direcionadas.

As UC’s são um bom complemento à componente prática?

Tanto as obrigatórias como as opcionais acabam por ser um bom complemento. 

Que UC’s de Laboratório tens?

No L3 o estágio de laboratório é mais introdutório às práticas laboratoriais sendo que nos estágios do M1 e M2 é-nos entregue um tema/proposta de projecto do qual somos inteiramente responsáveis e autónomos (mas com supervisão). 

Fora os estágios, existem disciplinas práticas que duram desde uma semana a dois meses (dependendo da opção) que têm como objectivo ou preparar para o estágio ou abordar técnicas específicas (no meu caso optei por um Curso de genética e epigenética molecular no Institut Pasteur que me deu equivalência de ECTS numa optativa do M2 e que se focou em várias técnicas de estudo epigenético desde o lab até bioinformática).

Na tua opinião, as aulas de laboratório estão a preparar-te bem para o teu futuro ?

Devo admitir que as aulas de laboratório focam-se principalmente em desenvolver as nossas skills orientados para a área da investigação e neste aspecto o serviço é excelente. Contudo quem pretende seguir áreas mais empresariais aconselho mestrados mais direcionados para isso. Este prepara-nos mais para um doutoramento a seguir.

O teu Mestrado tem alguma colaboração com empresas e/ou universidades? 

Podem ver em mais detalhe no website que deixei aqui numa questão abaixo, mas sim, existem colaborações com diversas Universidades e centros de investigação/clínicas por toda a Europa, Estados Unidos e Canadá. 

Na tua opinião, essas colaborações potenciam o ingresso no mercado de trabalho?

Estas colaborações sem dúvida que potenciam potenciais parcerias, especialmente para desenvolver a tese de Doutoramento futuramente.

Que saídas profissionais podem esperar os estudantes que completem o mestrado que frequentas?

As saídas profissionais podem ser muito diversificadas uma vez que área da engenharia genética é muito abrangente indo desde investigação básica até as mais diversas profissões listadas:

Informação que consta no site oficial, considerando que a maior parte dos alunos são franceses:

Empregos no setor público em investigação e / ou ensino 46,5%

CR ou DR (INSERM, CNRS, INRA, Instituto Pasteur, CEA) 14,5%

Professor-investigador em França 10,2%

Técnicos de investigação e gerente de plataformas de investigação 7,7%

Investigador, líder da equipa de investigação, num instituto ou universidade no exterior 5,2%

Professor do ensino médio 3,6%

Clinical research associate 2,3%

Professor-Investigador no exterior 1,8%

Técnico 1,2%

Investigação no sector privado 13,1%

Investigador, líder da equipa de investigação, em empresa francesa ou estrangeira 13,1%

Empregos em empresas (excluindo investigação) 39,7%

Marketing, gerente de produtos, analista, redator de patentes 19%

Consultor (inovação, marketing) 3,6%

Comunicação científica, jornalista, editora 3,2%

Consultores, gerentes de projeto, departamentos consultivos 3%

Professor particular, formador 2,5%

Conselheiro Genético 2%

Criador de empresas, start-ups 1,6%

Cientista da computação, bioinformática 1,2%

Outros 3,6%

Onde aconselhas a procura de informação, para quem esteja interessado em seguir o teu Mestrado?

No site da Universidade http://www.magisteregenet.univ-paris-diderot.fr

O que te fez seguir o Mestrado que frequentaste?

Pessoalmente, eu queria uma experiência diferente e queria, além de destacar o meu CV com um programa de mestrado tão rico na área da genética, ter a experiência de estudar e trabalhar fora de Portugal, especialmente em Paris e nos Estados Unidos.

Gostaste do teu Mestrado?

Adorei a experiência! Apesar de ter sido um desafio enorme por causa da língua e também do programa tão carregado, especialmente no M1 em que tinha de acompanhar as aulas em Francês e depois investir mais a rever tudo, fora a carga horária das teóricas. Achei os meus colegas todos super integrativos e deram-me imenso apoio, assim como os excelentes professores. A associação de estudantes até organizou um “Weekend de integração”, logo no início do ano, em que fomos todos acampar, algo parecido com a nossa praxe, para os que são novos no curso, com diversas actividades de integração.Gostei especialmente da minha experiência nos EUA em Durham na Duke University no M1.

Na tua opinião quais os pontos positivos?

O ponto mais positivo é sem dúvida a internacionalização do mestrado. Além disso senti que tanto as aulas como os estágios foram suportes essenciais para um conhecimento forte em genética.

E negativos?

A carga horária das UC’s. A falta de férias! Senti também que é muito difícil para um não-nativo de Francês acompanhar o M1, mas fui avisada! Aconselho que invistam num mestrado de parceria entre um ano em Portugal e o M2 do MEG.

Achas que o teu Mestrado está bem estruturado?

Aquela sensação estranha de que existe ordem no caos define este mestrado. Muitas, muitas opções de UC’s, estágios, cursos e etc e tudo possível. Não imagino algo tão bem estruturado em Portugal, honestamente. 

O que poderia ser reformulado na estrutura do mesmo?

Na verdade critico a carga horária e a falta de férias, mas não consigo apontar uma estrutura melhor. Todas as aulas são essenciais e os estágios são insubstituíveis. 

Há alguma “peripécia”/vivência que tenha ocorrido nestes anos em que estudaste e que gostasses de partilhar?

Houve várias, mas bastante engraçado foi quando fui para os EUA e aluguei um quarto numa moradia em casa de uma senhora americana na casa dos 60 anos. A senhora era no mínimo peculiar… Uma advogada solteirona que tinha um gato mais velho que ela. No dia em que cheguei ela partiu os dois pulsos a jogar ténis! Fora isso, forreta era o seu segundo nome, tentava poupar em TUDO! Exemplo: Eu metia água a ferver para cozer massa e ela ficava ao pé da panela a ver quando é que a água entrava em ebulição para me avisar da primeira bolha formada para que eu metesse logo a massa, para não gastar gás desnecessário. Esta e muitas outras. Só aguentei um mês e meio! Depois mudei-me com uma colega do lab para um apartamento de condomínio privado, com piscina e ginásio. Deu para recuperar bem do stress anterior.

O que tiveste em consideração na escolha do teu Mestrado?

A questão financeira pesou bastante. Eu queria uma experiência internacional, mas não me podia dar a grandes luxos. O facto deste mestrado ser gratuito para qualquer cidadão europeu ajudou. Os estágios eram pagos e a segurança social francesa dá uma ajuda monetária mensal a todos os estudantes de França. A componente internacional foi fundamental, especialmente o estágio nos EUA. Pela descrição das UC’s que vi no website deles percebi que se tratava de um programa muito completo e eu ainda não tinha encontrado nenhum a este nível e tão específico na área da genética.

Tens algum conselho para os estudantes que se vão candidatar, no próximo ano, a um Mestrado?

No fundo um mestrado vai definir o passo antes da entrada no mercado de trabalho e acho que deve ser bem pensado. Decidir se se quer investigação, indústria ou clínica é fundamental e deve-se escolher o mestrado que mais bases dá para cada vertente. Se por qualquer razão não entrarem à primeira no mestrado que pretendem, não faz mal tentar mais vezes, noutros anos se for preciso. Não desistir acima de tudo. Não devem ir para um mestrado só porque foi nesse que vos aceitaram. O ser humano tem a capacidade de se adaptar às mais diversas situações, mas isso nem sempre é sinónimo de felicidade. Eu não entrei à primeira no MEG mas esperei um ano, aperfeiçoei o francês (era a falha no meu cv) e no ano seguinte fui aceite.

Podes partilhar algum contacto teu, caso alguém te queira pedir algum conselho e/ou opinião? 

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