Patrícia Passinha: Mestrado em Biologia da Conservação

Patrícia Passinha concluiu o Mestrado em Biologia da Conservação, da Universidade de Évora, em 2018 e respondeu a algumas questões acerca do mesmo.

Poderias descrever o teu mestrado? As UC’s são mais voltadas para a teoria ou para a prática?

O Mestrado de Biologia da Conservação da Universidade de Évora tem aulas teóricas e práticas, um ponto positivo é que as disciplinas mostram sempre como é que a matéria é aplicada ao “mundo real” com vários exemplos de projetos de investigação, não só nacionais como internacionais.

As UC’s são um bom complemento à componente prática?

Sim. Ao contrário da minha licenciatura, no mestrado não temos aulas dedicadas só à parte prática, mas tivemos muitas saídas de campo. Os professores utilizavam as saídas de campo para nos dar matéria ou consolidar os conceitos teóricos. Tivemos uma cadeira totalmente prática, em que a componente teórica foi dada com o que estávamos a fazer. 

Que UC’s de laboratório tiveste?

No mestrado de Biologia da Conservação não temos aulas laboratoriais, o nosso laboratório é no campo. As nossas UC’s são dadas em módulos, em todas os professores fazem pelo menos uma aula totalmente no campo (1 dia). Temos uma UC totalmente prática (Práticas e Técnicas de Amostragem de Fauna). Para além disso, em vários momentos temos a oportunidade de pôr em prática o que aprendemos. 

Na tua opinião, as aulas práticas prepararam-te bem para o teu futuro?

Depende da área em que queiramos trabalhar. Se queremos trabalhar com animais aquáticos, por exemplo, não temos muitas aulas sobre o tema. No meu caso, as aulas foram um bom complemento ao meu trabalho na dissertação. As aulas dão-nos uma boa visão geral dos vários caminhos que podemos seguir. No 2º ano (dissertação de mestrado), conseguimo-nos focar no que queremos para o futuro e aí trabalharmos e prepararmo-nos. A parte das UC’s é mais focada para investigação, mas temos também a visão empresarial.

O teu mestrado tem alguma colaboração com empresas e/ou universidades?

Sim, para além de todas as unidades de investigação da Universidade de Évora, os nossos professores conseguem-nos pôr em contacto com vários investigadores de todo o país. O Mestrado de Biologia da Conservação tem uma parceria com a Ambios e disponibiliza uma mobilidade Erasmus + no Reino Unido, por 3 meses.

Na tua opinião, essas colaborações potenciam o ingresso no mercado de trabalho?

Como facilmente conseguimos contactar por via direta com várias unidades de investigação do país e ter contacto com projetos de investigação internacionais, acho que conseguimos ter uma visão das várias áreas de trabalho.

Sendo que a escolha da nossa dissertação é a primeira porta que temos para conseguir entrar no mercado de trabalho, mas não nos temos de limitar. Mesmo após o mestrado os professores continuam disponíveis para nos ajudar e aconselhar.

Que saídas profissionais podem esperar os estudantes que completem o mestrado que frequentaste?

A maioria dos estudantes quer seguir investigação no futuro. Alguns até concorrem logo a doutoramento após o mestrado. No entanto, não estamos limitados a investigação, podemos ir para trabalhos de empresas, como avaliação dos impactos ambientais, educação ambiental, guia de natureza, entre outros.

Onde aconselhas a procura de informação, para quem esteja interessado em seguir o teu mestrado?

Podem consultar o Facebook do mestrado (https://www.facebook.com/mbc.uevora) , ou se tiverem alguma dúvida concreta, podem sempre contactar o Coordenador responsável do Mestrado (Paulo Sá Sousa [psasousa@uevora.pt] ). 

O que te fez seguir este mestrado?

Sempre quis ir para uma área relacionada com ambiente, principalmente fauna. Ao longo da licenciatura fiz vários estágios e voluntariados em diferentes áreas para perceber o que gostava. Ao falar com os professores sobre os trabalhos deles percebi que queria fazer o Mestrado em Ecologia ou Biologia da Conservação, mas no final optei por uma maior especialização e pelo plano de estudos da Universidade de Évora. 

Gostaste do mestrado?

Eu adorei o mestrado. Como era uma área que eu sabia que me interessava muito todas as aulas foram bastante interessantes e de alguma forma sabia que iriam estar relacionadas com o meu futuro. O facto de termos várias saídas de campo não só nas aulas como fora, conseguirmos estar em contacto com unidades de investigação e a disponibilidade dos professores, foram fatores que me deram a experiência excelente que tive. 

Na tua opinião quais os pontos positivos?

Durante o meu percurso académico de Biologia, sempre fui pelo caminho mais de “campo”, a parte animal e ambiental sempre foi a que me despertou mais interesse. No mestrado sinto que os conceitos que aprendi já tinham sido falados na licenciatura, no entanto com professores diferentes e numa região diferente, a matéria foi dada com exemplos adaptados à região, aos projetos de conservação mais conhecidos dos professores e isso foi uma grande mais-valia para termos outros pontos de vista.

E negativos?

Agora acho que está diferente, na altura quando nos mostraram as propostas de dissertação ficámos muito tristes porque nas propostas não havia grande envolvimento na recolha dos dados, que é a parte mais interessante e prática. Isto aconteceu porque na altura em que entrei o mestrado ainda era de um ano e meio, então as dissertações eram mais curtas (6 meses). Agora o mestrado já é de dois anos, por isso penso que já não acontece. No entanto, os professores foram muito disponíveis para os alunos mostrarem as ideias e se conseguissem porem-nos em contacto com investigadores nas áreas de desenvolvimento da dissertação, dentro ou fora da universidade. 

Achas que o teu mestrado está bem estruturado?

Sim, o mestrado é feito por módulos, e de uma forma condensada. Não tínhamos aulas todos os dias, tínhamos dois a três dias completos na semana. O que me ajudou a ter tempo para fazer alguns trabalhos por conta própria enquanto estava no mestrado. Um dos pontos positivos que destaco é no segundo semestre termos uma UC de apoio ao início da dissertação, no final do ano acabamos com vária literatura recolhida, os métodos e os resultados esperados do trabalho já bastante desenvolvidos. Isso ajudou-me muito quando comecei a escrever a dissertação.

O que poderia ser reformulado na estrutura do mesmo?

Na altura que fiz, acabei em 2018, senti que haviam optativas que eu tinha interesse em fazer as duas, mas estavam sobrepostas, pois em termos de créditos apenas precisávamos ou de uma ou outra. Gostava que houvesse uma maior oportunidade de realizar as diferentes cadeiras, mesmo que no final fossem créditos extra.

Há alguma “peripécia”/vivência que tenha ocorrido nestes anos em que estudaste e que gostasses de partilhar?

Na altura da dissertação tivemos várias peripécias. Eu estava metade do mês no campo, na região Norte, a fazer a parte prática da dissertação. Uma noite em que tivemos de fazer amostragem de morcegos, fomos por um caminho no meio da Serra que nos parecia estar bom, até que a dada altura começamos a ver muita lama e não havia sítio para dar a volta. A nossa carrinha ficou presa na lama, tentámos de tudo para a tirar, não havia sítio para utilizar o guincho da carrinha e tentar sair. Era cada vez mais tarde e tivemos de ligar aos bombeiros. Após toda a complicação que foi darmos as coordenadas do local onde estávamos, era 1 hora da manhã quando eles nos encontraram. Depois de vários trabalhos, lá nos conseguiram tirar a carrinha e voltámos para o sítio onde estávamos alojados. No dia seguinte, uma senhora que limpava os quartos, disse-nos: “Então vocês ontem ficaram atolados na lama?”. Começámos a pensar que tínhamos sujado o quarto todo, já a ficar envergonhados, mas não, o bombeiro era irmão dela e tinha contado a história, que um grupo de jovens os tinha chamado para o meio da serra. Percebemos que esta aventura já era sabida por várias pessoas da cidade! Na altura ficámos preocupados, mas agora são memórias divertidas e ficam sempre os bons momentos, companheirismo e a simpatia de todas as pessoas que nos ajudavam. 

O que tiveste em consideração na escolha do teu mestrado?

O plano de estudos, li as descrições das cadeiras e se haveria aulas práticas ou não. Falei com os meus professores da licenciatura que também me aconselharam este mestrado. Tive a oportunidade de falar com uma antiga aluna do mestrado e com professores do mesmo. Todos esses pontos foram construindo a minha escolha. 

Tens algum conselho para os estudantes que se vão candidatar, no próximo ano, a um mestrado?

Pesquisem bem, leiam as descrições das cadeiras, se tiverem oportunidade falem com antigos alunos e profissionais da área, mandem mail aos coordenadores com dúvidas. Candidatem-se a uma área que gostem realmente, lembrem-se que vão ser dois anos a trabalhar nessa área, por isso se nos vamos ter de esforçar, mais vale ser em algo que nos interessa realmente. 

Podes partilhar algum contacto teu, caso alguém te queira pedir algum conselho e/ou opinião?

Qualquer dúvida que tenham, ou se precisarem de ajuda, podem-me mandar email à vontade! Também já estive no lado de escolha de mestrado e falar com alunos e mestres ajuda muito. patriciapassinha2@gmail.com

 

Patrícia falou-nos também um pouco do mestrado que frequenta atualmente:

Atualmente, estou a trabalhar num Centro de I&D, na área de comunicação de ciência, onde realizo atividades científicas de educação informal e ambiental. Em 2019, tive a oportunidade de começar um novo mestrado, numa área que também me interessa, a Comunicação de Ciência, é transversal a qualquer área de ciências, e sentia que gostava de ter o meu conhecimento na área em que trabalho validado pelas aprendizagens do mestrado. Estou no 1º ano do Mestrado de Comunicação de Ciência da Universidade Nova de Lisboa – FCSH. É uma área muito importante para qualquer pessoa que trabalhe em ciência, podemos ser ótimos profissionais e fazer a maior descoberta do país, mas se não conseguirmos passar a nossa mensagem a “maior descoberta” pode quase passar despercebida, obviamente que é um exagero, mas a comunicação pode fazer a diferença. Neste mestrado as disciplinas são de várias áreas da comunicação de ciência, como jornalismo de ciência, educação informal, comunicação estratégica, multimédia, entre outras. Temos várias partes práticas, e os nossos trabalhos são na sua maioria práticos, que nos obrigam a falar com diferentes pessoas, instituições e áreas científicas. 

Não é um mestrado tanto virado para a investigação, mas sim como apoio à investigação, com saídas profissionais como jornalismo de ciência, gabinetes de comunicação de universidades e centros de I&D, projetos de educação científica, entre bastantes mais saídas profissionais.