David Almeida frequenta o primeiro ano do mestrado em Data Science, em Lisboa, e respondeu a algumas questões acerca do mesmo.
Poderias descrever o teu mestrado? As UC’s são mais voltadas para a teoria ou para a prática?
A grande maioria das UC’s que envolvem competências informáticas têm uma componente prática. As cadeiras mais teóricas serão aquelas na área da matemática e estatística.
As UC’s são um bom complementos à componente prática?
As aulas teóricas e aulas práticas de cada UC são sempre de acordo com o programa da UC, de modo a termos preparação prática nos conteúdos teóricos que vamos aprendendo.
Que UC’s de laboratório tens?
Não existem UCs de laboratório. Os “laboratórios” são aulas práticas no computador e projetos de programação. O maior “laboratório” que existe será o 2º ano de dissertação ou projeto.
Na tua opinião, as aulas estão a preparar-te bem para o teu futuro?
Em parte, sim. Preparam-me no sentido de ter a meu dispor referências rápidas a ferramentas que posso vir a usar no futuro. Em geral, os exemplos são mais casos educacionais do que casos reais, visto que, na maioria da vezes, o tratamento de dados reais é um processo lento e trabalhoso. Obviamente, os projetos, se bem desenhados, implicam uma quantidade substancial de trabalho e pensamento crítico sobre os conteúdos da UC que servem como avaliação prática de conhecimentos.
O teu mestrado tem alguma colaboração com empresas e/ou universidades?
Não propriamente, trata-se de um mestrado exclusivo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. No entanto, inúmeras propostas de projetos de dissertação de mestrado são fornecidas por empresas e entidades interessadas nos alunos do mestrado.
Na tua opinião, essas ligações potenciam o ingresso no mercado de trabalho?
Definitivamente. As empresas entram logo em contacto com o nosso trabalho se decidirmos ingressar no projeto deles e torna-se logo uma oportunidade de ficarmos por lá ou de ganhar novos contactos.
Que saídas profissionais podem esperar os estudantes que completem o mestrado que frequentas?
A lista das saídas profissionais que não esperam os alunos deste mestrado será mais curta. É um curso na área da informática e traz as vantagens de empregabilidade da área. É uma formação transversal a todas as áreas de atividade humana, desde a biologia (bioinformática, biologia computacional) à economia e aos negócios. É uma das áreas mais em voga e é cada vez mais procurada, com a explosão de dados nas últimas décadas.
Onde aconselhas a procura de informação, para quem esteja interessado em seguir o teu mestrado?
O website da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa tem informações até bastante detalhadas sobre o mestrado, com pormenores sobre cada UC do mestrado lá colocados pelos docentes em cada ano letivo. Em geral, aconselho sempre a tentarem contactar o/a coordenador(a) do(s) mestrados que ponderam.
O que te fez seguir o mestrado que frequentas?
A minha indecisão: gosto de todas as áreas do conhecimento e este mestrado é talvez a coisa mais próxima de um treino universal para trabalhar onde quiser, sem ter de tão cedo me comprometer a algo: os dados são comuns a qualquer área científica, e ajuda que eu goste de programar.
O meu sentido de responsabilidade cívica: o poder dos dados foi usado em campanhas políticas para eleger um tirano cor de Cheetos no outro lado do Atlântico e para retirar as ilhas Elizabete II da União Europeia; senti que informar-me e trabalhar na área me permitia poder chamar à atenção para estas ameaças à democracia, que todos os dias pioram.
A minha experiência prévia: aproveitei a licenciatura para fazer dois estágios – o primeiro em Neurociências na Fundação Champalimaud, e o segundo em Modelação de Redes Biológicas no Instituto Gulbenkian de Ciência – para assegurar que tinha experienciado um pouco de tudo; nada melhor que experiência no terreno para tomar estas decisões.
Estás a gostar do teu mestrado?
Definitivamente, e gosto ainda mais dos amigos que cá fiz. Está a ser uma experiência completamente diferente da licenciatura, e se há coisa que gosto é de sair da minha zona de conforto. Mesmo quando sinto dificuldades, sinto que estou a aprender novas coisas e que estou a adquirir novas competências.
Na tua opinião quais os pontos positivos?
A possibilidade de escolher várias UCs optativas, criando um plano curricular bastante personalizado comparado com outros mestrados. Pelo menos do que observei, há também bastante flexibilidade na mudança das UCs optativas se estivermos descontentes ou preferirmos outra UC na qual haja vaga. O ambiente diversificado de alunos promove um intercâmbio excelente de ideias, perspetivas e conhecimentos. O contacto com vários profissionais na área através de seminários, palestras e eventos dos departamentos da Faculdade.
E negativos?
A carga horária de algumas UC’s é grande e se quisermos escolher várias UC o semestre pode tornar-se infernal. Sendo que as UC’s podem ser avaliadas por trabalhos/projetos e testes ou exame final, há a possibilidade real de trabalharmos durante meses seguidos sem grande descanso. Os projetos também calham frequentemente nas mesmas alturas do semestre, sendo divulgados mais pela 2ª metade. Também é difícil escolher UC’s tão cedo nas inscrições sem ter bem ideia do seu funcionamento e detalhes, por isso falar com ex-alunos é aconselhado.
Achas que o teu mestrado está bem estruturado?
Como acontece muitas vezes em mestrados multidisciplinares que envolvem diferentes departamentos, o mestrado foi montado a partir de UC’s já existentes na FCUL, com a adição de algumas UC’s específicas ao curso. O primeiro semestre dá definitivamente as bases necessárias para uma compreensão geral do que é a ciência de dados e as suas aplicações, tal como competências básicas na área. O segundo semestre toca em assuntos mais avançados e específicos dentro da enormidade de temáticas que data science engloba.
O que poderia ser reformulado na estrutura do mesmo?
Infelizmente, a distribuição de UC’s opcionais por grupos e semestres limita o perfil ideal que possamos querer. Devido ao ritmo das aulas nalgumas UC’s, há conteúdos que poderiam ser mais aprofundados ou explorados mais além e que, em vez disso, ficam aquém da expectativa. No entanto, a mais-valia de um mestrado nesta área é que nada nos impede de explorar esses temas em casa em regime auto-didata.
Há alguma “peripécia”/vivência que tenha ocorrido neste ano a estudar em que estás a estudar e que gostasses de partilhar?
*cough* COVID-19 *cough*
O que tiveste em consideração na escolha do teu mestrado?
A localização (queria ficar por Lisboa por motivos pessoais, e por estar já bem familiarizado com o ambiente científico e centros de investigação da área), as propinas (I’m not a millionaire, e não é por ser mais caro que um curso é necessariamente melhor, falo por experiência própria, há muita política interna às Universidades que rege estas decisões…).
Tens algum conselho para os estudantes que se vão candidatar, no próximo ano, a um mestrado?
Já dizia o MIKA: “Relax, take it easy!”. Tanto a licenciatura, como o mestrado, como até, possivelmente, o doutoramento, e todos os passos intermédios e futuros, não são uma sentença daquilo que vão fazer para sempre. Mais que nunca, o mercado de trabalho é dinâmico e flexível, e uma escolha hoje não implica um compromisso definitivo amanhã.
Take it from me, um biólogo molecular, a formar-se em informática, que vai fazer a tese sobre ciências sociais num centro de investigação de física de partículas.
Há tempo para tomarem as decisões que querem e não têm de se sentir 100% certos de tudo a toda a hora. Só têm de estar atentos ao vosso instinto em relação aquilo que querem e gostam de fazer.
O CV é muito bonito, as boas notas são a cereja no topo do bolo, mas o melhor CV é aquele que é montado por experiências enriquecedoras que vos fizeram crescer verdadeiramente e vos puseram fora da vossa zona de conforto, vos abriram os olhos e criaram oportunidades.
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