Joana Jesus: Mestrado em Oncobiologia

Joana Jesus é aluna do Mestrado em Oncobiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e respondeu a algumas questões acerca do mesmo.

Poderias descrever o teu mestrado? As UC’s são mais voltadas para a teórica ou para a prática?

Essencialmente, eu diria que a maioria das UC’s são mais teóricas, no entanto os professores esforçam-se para dar exemplos de experiências pessoais

As UC’s são um bom complemento à parte prática?

Infelizmente, o mestrado não tem uma parte prática, apenas o ano da dissertação em que temos 12 meses num laboratório para desenvolver a tese final.

O teu mestrado tem alguma colaboração com empresas e/ou universidades?

O mestrado está muito ligado ao Hospital Santa Maria, sendo que a maioria dos nossos professores são médicos no mesmo. Para além disso, uma das UC’s envolve passar 6 dias em dois laboratórios diferentes (3 dias em casa), tendo ainda a oportunidade de passar um dia no serviço de oncologia do hospital! Para escolher estes laboratórios é oferecida uma lista com laboratórios do iMM e da Fundação Champalimaud, pelos quais os alunos se dividem.

Na tua opinião, essas colaborações potenciam o ingresso no mercado de trabalho?

Quanto ao mercado de trabalho, não posso dizer que sim. Muitos dos estudantes deste mestrado tendem a já ser médicos que decidem expandir os seus conhecimentos nesta área, por isso a eles não lhes faz grande diferença. No entanto, foi através desta conexão com a Fundação Champalimaud que descobri o laboratório onde depois escolhi desenvolver a minha tese! Assim, acredito que continue a ser uma das melhores oportunidades que o mestrado oferece.

Que saídas profissionais podem esperar os estudantes que completem o mestrado que frequentas?

Mais uma vez, muitos estudantes já são alunos de medicina e médicos formados, tanto que o mestrado em si está muito virado para a parte clínica da oncobiologia. No entanto, para quem vem de outros cursos na área de biologia, bioquímica, etc, o mestrado não vos dará muitas mais opções do que investigação, a não ser que a vossa licenciatura já vos tenha dado outras opções e nesse caso é um complemento aos conhecimentos que já tinham adquirido.

Onde aconselhas a procura de informação, para quem esteja interessado em seguir o teu mestrado?

A única informação que obtive foi através do site da faculdade, que deve ser muito bem explorado para se saber os detalhes todos! Contudo, devo avisar que o mestrado apenas abre de 2 em 2 anos, pelo que não se espantem se a informação que vos aparecer parecer desatualizada. Eles só costumam colocar novas informações por volta de Maio do ano em que o mestrado abre (que será este de 2020).

O que te fez seguir o mestrado que frequentas?

Foi uma área que sempre me interessou e, ao longo da minha licenciatura, ganhei ainda mais curiosidade sobre o tema, pelo que decidi que gostaria de seguir investigação dentro do mesmo.

Estás a gostar do teu mestrado?

Sim e não. É uma pergunta complicada, na verdade. Para quem veio de Biologia Celular e Molecular, foi um pequeno choque ter aulas tão viradas para a clínica. Não foram difíceis de acompanhar e nunca entraram a um detalhe que só se se justifica para alunos de medicina, mas é sempre uma adaptação que temos de fazer, tanto na forma de estudo, como na forma como pensamos. Mas isso não quer dizer que seja mau.

Na tua opinião quais os pontos positivos?

Honestamente, sinto que ter um lado mais clínico me ajudou a pensar como é que posso conciliar a investigação com a clínica, e até me deu um pensamento mais crítico em relação a projetos de investigação.

E negativos?

O preço e a estrutura/logística. Não é que seja dos mais caros em Portugal, mas mesmo assim é uma grande diferença em relação a licenciaturas (no ensino público). No total dos dois anos, são 4900 euros se não me engano. Agora, eu entenderia este preço se tivéssemos aulas práticas, até porque só existem 10 vagas (normalmente eles aceitam 13/14 alunos até) por isso se somos menos, eles vão cobrar mais para não haver “prejuízo”. Mas é uma faculdade pública, um mestrado que não tem aulas práticas e que, sendo 100% honesta, está logisticamente mal estruturado. 

Achas que o teu mestrado está bem estruturado?

Tal como disse antes, não. Algumas aulas são repetitivas, ou seja, demos matéria em certas aulas que foi repetida noutras em que podíamos estar a aprender mais. Depois houve imensas mudanças de horário ao longo do ano, que por vezes coincidiam com planos já feitos pelos alunos em relação ao horário enviado anteriormente (ao todo tivemos 12 versões de horário). Para além disso, o mestrado está estruturado de uma forma que, inicialmente, deveria ajudar os alunos a ter mais tempo para estudar para os exames, pois nunca temos mais do que 2 cadeiras ao mesmo tempo (que costumam durar em média 1/2 semana) e depois temos o exame na semana seguinte a termos terminado essas cadeiras. O problema foi que certas cadeiras pediam trabalhos e não exames, outras mudavam o exame de sítio, e no final já estávamos a ser sobrecarregados com deadlines e exames ao mesmo tempo. Os professores não foram particularmente compreensivos com as nossas queixas.

O que poderia ser reformulado na estrutura do mesmo?

Essencialmente, tudo era mais fácil se os professores e entidades responsáveis pelo mestrado fossem mais compreensivos e aceitassem as críticas que fomos fazendo ao longo do ano, nomeadamente sobre datas de exames, exames que tinham matéria nunca antes lecionada e outras logísticas mínimas que teriam elevado a qualidade do mestrado se fossem bem executadas.

Há alguma “peripécia”/vivência que tenha ocorrido nestes anos em que estás a estudar e que gostasses de partilhar?

Isto não é específico ao mestrado, mas aos anos de estudo em geral: aproveitem o que as faculdades vos dão. Núcleos, associações, comissões de organização de eventos, etc. Inscrevam-se, aproveitem. As notas são importantes, é verdade, e detesto que me digam que não, porque somos avaliados por alguma razão. Mas todas estas atividades extracurriculares vão fazer-vos crescer imenso, seja em responsabilidade, gestão de tempo ou simplesmente crescimento pessoal em relação a como veem as coisas. E no final de contas, os empregadores irão escolher quem mostra ser mais proativo. Acreditem, não pensem que não serve de nada terem outras vivências para além dos PowerPoints das aulas.

O que tiveste em consideração na escolha do teu mestrado?

Queria algo que conciliasse a investigação com a clínica, pois sentia que me faltava um pouco da última.

Tens algum conselho para os estudantes que se vão candidatar, no próximo ano, a um mestrado?

Vai sempre parecer difícil, até olharem para trás e se aperceberem que não era. Por isso tenham calma.

Podes partilhar algum contacto teu, caso alguém te queira pedir algum conselho e/ou opinião?

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