Sofia Spormann: Mestrado em Biologia Funcional e Biotecnologia de Plantas

Sofia Spormann é aluna do segundo ano do Mestrado em Biologia Funcional e Biotecnologia de Plantas e respondeu a algumas questões acerca do mesmo.

Poderias descrever o teu mestrado? As UC’s são voltadas mais para a teoria ou para a prática?

As quatro UCs de frequência obrigatória no primeiro ano do MBFBP incluem duas que são inteiramente teóricas, Biologia Molecular de Plantas; e Desenvolvimento e Sinalização; e duas inteiramente práticas, Manipulação de DNA; e Laboratório de Biotecnologia. As restantes UCs do MBFBP são todas opcionais e de cariz teórico-prático, com aulas maioritariamente expositivas, mas com espaço para discussão e por vezes acompanhadas por experiências práticas, como é o caso de  Desenho Experimental; Melhoramento Genético de Plantas; Respostas e Adaptações ao Stress; Engenharia Metabólica de Plantas; Biotecnologia das Algas e Cianobactérias; Biotecnologia da Madeira; Biologia da Reprodução; Genómica Funcional; Fitopatologia e Proteção de Culturas; e Biotecnologia das Plantas Aromáticas e Medicinais.

As UC’s são um bom complemento à componente prática?

As UCs que ocorrem durante o primeiro ano letivo do MBFBP dão-nos uma base teórica sólida para o estudo de variados parâmetros da fisiologia e da biotecnologia vegetal, apresentando-nos à bibliografia mais atual e completa que existe para cada tema abordado. Este é sem dúvida o ponto forte do mestrado: sabemos onde encontrar a informação de que necessitamos. No entanto, o plano curricular atual deste mestrado peca pela falta de oferta de UCs opcionais práticas, uma vez que as existentes tendem a ser excessivamente teóricas pouco direcionadas para a aplicabilidade em termos de biotecnologia e empreendedorismo, por exemplo, que serão certamente muito valorizadas no nosso futuro. Apesar de algumas UCs aliarem a teoria à implementação prática, tal não ocorre na UC de Genómica Funcional, que é lecionada por diversos professores de áreas muito divergentes e não há continuidade entre o que vai sendo exposto por cada um, o que torna a UC extremamente desorganizada.

Que UC’s de laboratório tens?

No primeiro semestre, tive a UC laboratorial de Manipulação de DNA, que consistiu em fazer a Clonagem e expressão da proteína mCherry em Escherichia coli, e no segundo semestre a UC de Laboratório de Biotecnologia, na qual aprendemos a manipular e estabelecer culturas de células e tecidos in vitro e técnicas de transformação permanente e transiente. Ainda no segundo semestre, tive a UC opcional de Biotecnologia das Plantas Aromáticas e Medicinais que foi das UCs com maior volume de trabalho, contando com uma componente teórica tão intensa quanto a laboratorial. Nas UCs teórico-práticas costuma haver uma ou duas aulas práticas, que podem ocorrer num laboratório, como em Respostas e Adaptações ao Stress, ou no campo, como em Fitopatologia e Proteção de Culturas. Dada a relevância das plantas aromáticas e medicinais no mercado, achámos que os assuntos desta UC deveriam estar interligados e em continuidade com os da UC de Engenharia Metabólica de Plantas e, porventura, com uma UC de empreendedorismo, à semelhança do que é feito na UM.

Na tua opinião as aulas de laboratório estão a preparar-te bem para o teu futuro?

No geral, sim. As aulas de laboratório do MBFBP permitem-nos realizar experiências práticas com muito mais autonomia e confiança do que tínhamos nas aulas práticas da licenciatura em Biologia na FCUP. Apesar de não termos posto em prática todas as técnicas mencionadas nas aulas teóricas, fomos capazes de experimentar vários métodos que certamente iremos voltar a utilizar no futuro em investigação. No entanto, a meu ver, para quem ambiciona avançar para um futuro em contexto empresarial, o mestrado não lhes oferece informação suficiente para que o façam de forma autónoma e formada. Penso que, apesar da urgência em reforçar as bases teórico-práticas da biologia computacional para qualquer trabalho em investigação científica, o MBFBP não valoriza muito esta área, pelo que não considero que prepare os estudantes neste âmbito para terem a autonomia suficiente para utilizar bases de dados e programas essenciais às suas dissertações e projetos futuros na investigação. 

O teu mestrado tem alguma colaboração com empresas e/ou universidades?

Sim. O mestrado tem uma UC, Gestão de Projeto, que funciona em parceria com a UPTEC, e há uma aula de outra UC, Respostas e Adaptações ao Stress, que é lecionada por um professor do ICBAS. Para além disso, sei que para quem escolhe fazer um estágio em contexto empresarial pode fazê-lo nas empresas Deifil e A4F – Algae for Future. No caso das dissertações em contexto laboratorial, os estudantes podem ser co-orientados por investigadores de outras universidades, nacionais ou internacionais, pelo que, desse ponto de vista, existem várias ligações com outras instituições de ensino. No entanto, estas pontes partem da iniciativa do estudante e não do mestrado em si.

Na tua opinião, essas colaborações potenciam o ingresso no mercado de trabalho?

Estas ligações são especialmente relevantes no segundo ano do mestrado, pois podem dar azo a oportunidades de trabalho futuras, quer a nível de investigação, se houver oportunidades de avançar no respetivo âmbito para bolsas de investigação ou PhD, quer a nível empresarial, caso o estudante desenvolva um bom projeto na empresa onde estagia.

Que saídas profissionais podem esperar os estudantes que completem o mestrado que frequentas?

Apesar da saída mais encorajada ser a continuação do percurso académico para um programa doutoral, é provável que os estudantes que saiam do MBFBP sejam bem recebidos em empresas de biotecnologia vegetal, tais como as mencionadas acima, ou em laboratórios de engenharia metabólica, entre outros.

Onde aconselhas a procura de informação, para quem esteja interessado em seguir o teu mestrado?

A realidade do mestrado é, em alguns casos, muito diferente das informações que estão no Sigarra. A melhor forma de obterem informação é falando com os docentes e com as pessoas que o frequentam ou já frequentaram. Que eu saiba não há mais nenhum website nem página onde haja mais informação.

O que te fez seguir o mestrado que frequentas?

Desde que tive a UC Fisiologia Vegetal, na licenciatura, ganhei uma enorme curiosidade pela biologia do desenvolvimento, crescimento e regulação da fisiologia das plantas, tendo encontrado uma oportunidade de estágio num dos laboratórios que se dedica à investigação em plantas da FCUP. Com a experiência do estágio curricular e de outras UCs opcionais na área da Biologia Vegetal, decidi que queria continuar neste âmbito, pelo que este mestrado, sendo o único desta área no Porto, me pareceu a melhor opção.

Estás a gostar do teu mestrado?

Como em tudo, há aspetos positivos e negativos. De um modo geral, estou satisfeita com o lugar onde cheguei, embora saiba que muito partiu de mim e não de apoios por parte do mestrado. Por isso, a resposta que habitualmente dou a esta pergunta, que é bastante frequente, é que para mim, o MBFBP, embora me tenha ensinado muito e me tenha dado a conhecer técnicas muito valiosas, não está a ser uma experiência tão enriquecedora para o meu futuro como eu esperaria. Importa salientar que a minha visão não é igual às dos meus colegas e que esta varia muito, especialmente entre os estudantes de fora e os que já fizeram a licenciatura na FCUP… A verdade é que a maioria das UCs requer muitas horas de trabalho, e que para quem estiver a estagiar durante o primeiro ano e quiser dedicar-se “a sério” a todas as UCs, é um desafio manter uma rotina que possa incluir também hobbies pessoais e algum tempo livre! Mas tudo é possível!

Na tua opinião quais são os pontos positivos?

O mestrado tem uma componente teórica muito completa e são estudados os assuntos mais importantes com muito detalhe, pelo que a quantidade e qualidade de informação que se ganha é inquestionável. Apesar de não estarem tão bem reforçadas, este mestrado inclui muitas outras áreas paralelas, como a genómica funcional, a biotecnologia de algas e de fungos e a agronomia. Isto permite que os estudantes tenham uma ideia da aplicabilidade da biotecnologia vegetal noutras áreas da científicas. As UCs estão divididas por módulos ao longo do ano letivo, pelo que normalmente não há cadeiras a ocorrer em simultâneo, permitindo-nos focar num assunto específico de uma forma mais intensa e não estar com “pontas soltas” de várias cadeiras. Também devido à divisão em módulos, enquanto estão a decorrer as UCs opcionais que o estudante não escolheu, este tem direito a umas pequenas férias, o que é sempre bom para fazer uma pausa e recarregar energias a meio do semestre. Em termos práticos, é nos dada a oportunidade de experimentar um pouco de muitas áreas e aplicações, nomeadamente manipular culturas de plantas in vitro, realizar diferentes métodos de transformação genética, de avaliação de parâmetros fisiológicos, de extração de componentes celulares, simular a escrita de artigos científicos e de candidaturas de projetos para bolsas de investigação, etc.

E os negativos?

O ponto fraco deste mestrado é que as UCs não estão bem interligadas nem bem coordenadas internamente, quando existem muitos assuntos lecionados por diferentes docentes que dariam continuação uns aos outros e cuja compreensão beneficiaria de uma colaboração mais coesa. Para além disso, há UCs que são exaustivamente trabalhosas e que requerem mais tempo que o previsto para cumprir com todos os meios de avaliação. A escolha das UCs tem uma grande influência na qualidade do MBFBP, para alguns alunos pode tornar-se demasiado dispersivo, pois há demasiadas UCs opcionais de áreas muito diferentes e algumas que, a meu ver, são demasiado relevantes para serem só opcionais. 

Achas que o teu mestrado está bem estruturado?

Nem por isso. Acho que o mestrado tem UCs dadas por professores de áreas muito diversas o que faz com que durante determinados módulos sejam abordados temas nas aulas e nos trabalhos propostos que não têm grande relevância para o estudante de MBFBP. Nota-se também que não há muita comunicação entre os docentes sobre as metas de cada UC nem sobre as formas de avaliação, o que fez com algumas UCs ficassem desorganizadas e que não houvesse um equilíbrio de grau de dificuldade de UCs com o mesmo nº de créditos.

O que poderia ser reformulado na estrutura do mesmo?

Deveria haver mais uniformidade entre os modos de avaliação de cada UC, atendendo ao nº de créditos. A UC Desenho experimental não deveria ser dada em conjunto com estudantes de outros mestrados, nem por professores de outras áreas, incentivando a escolha de desenhos experimentais destinados a ensaios com plantas para o relatório de avaliação da UC. Desenvolvimento e Sinalização deveria ser fragmentada em duas UCs. A UC de Genómica Funcional deveria ser inteiramente reestruturada e, para isso, deveriam ser ouvidas as opiniões e sugestões de outros docentes, deveria ocorrer no início do ano letivo, abranger mais aspetos da Biologia Computacional e deveria ser dada por professores mais especializados nesta área. Deveria haver uma UC opcional em colaboração com uma empresa que funcionasse como um estágio de curta duração nessa empresa.

O que tiveste em consideração na escolha do teu mestrado?

    • Quis um mestrado no qual pudesse aprofundar os meus conhecimentos sobre a Fisiologia Vegetal;
    • Tive atenção aos temas que seriam abordados em cada UC, para ver se eram do meu interesse;
    • Certifiquei-me de que as aulas teriam também uma componente prática;
    • Certifiquei-me de que o funcionamento ocorreria em módulos;
    • Quis escolher um mestrado no Porto, pois não me conseguiria sustentar monetariamente noutro sítio.

Tens algum conselho para os estudantes que se vão candidatar, no próximo ano, a um mestrado?

O meu conselho para os que querem entrar no MBFBP é que, quando escolherem as UCs, não façam escolhas sob pressão ou influência de ninguém e que não deem demasiada importância ao tipo de avaliação e às médias de anos anteriores. Escolham as UCs com base nos vossos interesses e pensem nos conhecimentos que podem ganhar e na forma como essa experiência poderá ter algum valor no vosso futuro. Aconselho-vos também a manterem um ponto de vista muito crítico perante os docentes, lutando para que sejam erradicados erros recorrentes e impedindo que vos prejudiquem. Para todos os que entrarem no MBFBP, sugiro que comecem já no início do primeiro ano letivo a contactar com grupos de investigação ou empresas com os quais gostariam de realizar as vossas dissertações ou estágios empresariais. Quanto mais cedo começarem a explorar o tema em que vão trabalhar, melhor! Acho que seria bom salientar ainda que é muito importante manterem-se unidos e formarem bons laços de amizade entre vós. Haverá muitos trabalhos para serem feitos em equipas, pelo que uma boa comunicação é essencial. Não vale a pena entrarem em competição uns com os outros, e divirtam-se!